Sujet Portugais LV1 CCIP 2011 (Traductions)

TRADUCTION DE FRANÇAIS EN PORTUGAIS

La maison, c’est la maison de famille, c’est pour y mettre les enfants et les hommes, pour les retenir dans un endroit fait pour eux, pour y contenir leur égarement, les distraire de cette humeur d’aventure, de fuite qui est la leur depuis les commencements des âges. Quand on aborde ce sujet, le plus difficile c’est d’atteindre le matériau lisse, sans aspérité, qui est la pensée de la femme autour de cette entreprise démente que représente une maison. Celle de la recherche du point de ralliement commun aux enfants et aux hommes.

Le lieu de l’utopie même c’est la maison créée par la femme, cette tentative à laquelle elle ne résiste pas, à savoir d’intéresser les siens non pas au bonheur mais à sa recherche comme si l’intérêt même de l’entreprise tournait autour de cette recherche. […]

J’ai pensé très longtemps à acheter une maison. Je n’ai jamais imaginé que je pourrais posséder une maison neuve. A Neauphle, la maison ça a d’abord été deux fermes bâties un peu avant la Révolution. […]. En 1958 elle m’appartenait. J’y ai pensé jusqu’à la douleur certaines nuits. Je la voyais habitée par ces femmes. Je me voyais précédée par ces femmes dans ces mêmes chambres, dans les mêmes crépuscules ;
ce sont des choses à quoi les femmes pensent beaucoup, des années, et qui font le lit de leur pensée quand les enfants sont petits : comment leur éviter le mal. Et cela, pour presque toujours n’aboutir à rien.

Marguerite Duras, La vie matérielle, pp. 48-50, ed. POL, 1987.

TRADUCTION DE PORTUGAIS EN FRANÇAIS

Palavras para uma cidade

Tempo houve em que Lisboa não tinha esse nome. Chamavam-lhe Olisipo quando os Romanos ali chegaram, Olissibona quando a tomaram os Mouros, que logo deram em dizer Aschbouna, talvez porque não soubessem pronunciar a bárbara palavra. Quando, em 1147, depois de um cerco [[Siège]] de três meses, os Mouros foram vencidos, o nome da cidade não mudou logo na hora seguinte […]. Quando começou Lisboa a ser Lisboa de facto e de direito? […]

Estas miudezas históricas interessam pouco, dir-se-á, mas a mim interessar-me-ia muito, não só saber, mas ver, no exacto sentido da palavra, como veio mudando Lisboa desde aqueles dias. Se o cinema já existisse então, se os velhos cronistas fossem operadores de câmara, se as mil e uma mudanças por que Lisboa passou ao longo dos séculos tivessem sido registadas, poderíamos ver essa Lisboa de oito séculos crescer e mover-se como um ser vivo, como aquelas flores que a televisão nos mostra, abrindo-se em poucos segundos, desde o botão ainda fechado ao esplendor final das formas e das cores. Creio que amaría a essa Lisboa por cima de todas as cousas.

Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória. Memória que é a de um espaço e de um tempo, memória no interior da qual vivemos, como uma ilha entre dois mares: um que dizemos passado, outro que dizemos futuro. Podemos navegar no mar do passado próximo graças à memória pessoal que conservou a lembrança das suas rotas, mas para navegar no mar do passado remoto [[Lointain, éloigné, reculé]] teremos de usar as memórias que o tempo acumulou, as memórias de um espaço continuamente transformado, tão fugidio como o próprio tempo. Esse filme de Lisboa, comprimindo o tempo e expandindo o espaço, seria a memória perfeita da cidade.

José SARAMAGO, extrait de « Palavras para uma cidade »,

Outros cadernos de Saramago [Blog de José Saramago], sine data