PORTUGAIS – LV 2
EXPRESSION ÉCRITE
Caligrafia em Extinção
A letra cursiva esteve presente na história da humanidade desde as primeiras pedras lascadas até a tinta sobre papel.
O Estado de Indiana adotou, em julho, o Common Core State Standard, uma iniciativa de padronização do ensino básico que torna o ensino da letra cursiva opcional, passível de ser abolido futuramente. Para os defensores do padrão1, a letra de forma deve receber prioridade no ensino, uma vez que as crianças utilizara cada vez mais computadores. Também é mais fácil para o jovem associar os símbolos das teclas2 as letras do que desenhar a palavra. A decisão trouxe novamente à tona a discussão sobre o desaparecimento da letra de mão.
«Quando inventaram a máquina de escrever, também foi dito que ela acabaria com a escrita. Ao contrário, o que acabou foi a máquina de escrever», argumenta Antonio De Franco Neto, professor de Caligrafia. Para Franco, o computador surgiu para auxiliar e não substituir, pois escrever à mão, fazendo anotações em um papel, ainda é muito mais pràtico.
O professor encara a medida adotada nos Estados Unidos como um erro. «As invenções tecnológicas não foram feitas para diminuir a capacidade humana e sim para acrescentar. Quando se substitui escrever à mão por teclar, perdemos a capacidade intelectual e produtiva», argumenta.
Em contrapartida, Marcelo E. K. Buzato, do projeto Letramento, Fronteiras e Cultura Digital, do Instituto de Estudos da Linguagem, da Universidade de Campinas, vê a medida como natural, embora complicada. «Acho que não se deve encarar essa decisão como o ‘começo do fim da escrita cursiva’». É mais provável que haja a migração para outros suportes de escrita, como celulares e tablets.
Em 2005, Steve Jobs, cofundador da Apple, fez um discurso na Universidade Stanford no qual contou que frequentara um curso de caligrafia quando estudante em Reed College. O Macintosh não seria o mesmo sem a noção de estética aprendida naquelas aulas. O computador da Apple é conhecido por seu design inconfundível e por ser o primeiro a adotar belas tipografias. A professora Diana Vidal, da Faculdade de Educação da USP3, assinala que a boa caligrafía contribui para formar o senso estético da criança. O ensino da técnica de escrever proporciona hábitos de ordem, asseio4 e disciplina mental.
Segundo De Franco, quem estuda caligrafia aprende a se comunicar melhor. «Se você tem uma letra confusa e não sabe se prezado é conm s ou z, desenhia alguma coisa que possa parecer os dois. Mas, se tem uma letra bem definida, é obrigado a saber escrever certo», explica. […].
Claudemir Belintane, professor da Faculdade de Educação da USP, argumenta que o traçado da letra e o manejo rápido contribuem para o fluxo da escrita, mesmo em jovens que misturam a cursiva com a letra de forma. […] Afirma que não existem dados conclusivos sobre perdas de habilidades ligadas exclusivamente à escrita cursiva. «Essa suposição pressupõe uma concepção enrijecida5 do cérebro. Se a criança usar tablet, ou mesmo teclado, acredito que. com o tempo, haverá compensações. Outras áreas serão ativadas e novas habilidades surgirão», explica. «Vale lembrar que a caneta e o papel já foram tecnologias novas e que muitas máquinas que usamos hoje em dia facilitam nossa vida sem destituir habilidades.» […]
No Brasil, a alfabetização ainda se dá com lápis e papel, embora não exista treino motor para promover uma caligrafia clara como havia no século passado. Ainda assim, Buzalo nota que muitos jovens têm retomado a escrita cursiva para enviar cartas em papel pelo correio e manter diários em cadernos e scrapbooks. A escrita cursiva também migra de suporte. «Acho mais fácil esse tipo de escrita se deslocar e se reespecializar em outros espaços do que sumir6», reflete Buzato.
Maíra Lie Chao, Revista Planeta, Janeiro 2012
1 Padrâo : norme
2 Tecla : clavier / teclas : touches du clavier
3 Universidade de São Paulo
4 Asseio : netteté, propreté
5 Conception enrijecida : conception figée
6 Sumir: disparaître
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1. Este texto apresenta diferentes pontos de vista sobre a escrita, a letra cursiva, a caligrafia, o lugar do teclado no ensino e na vida quotidiana. Destaque os pontos de problematização do artigo.
2. Qual é a sua opinião sobre o tema discutido ? Apresente o seu ponto de vista com argumentos e cxemplos.
PORTUGAIS – LVII
TRADUCTION DE FRANÇAIS EN PORTUGAIS
Quelque chose est en train de se perdre, estime Kitty Florey : « […]. J’écris mes livres sur ordinateur. Mais il serait bon de garder un moyen de communiquer par écrit sans dépendre d’une technologie. Ecrire à la main amène à ralentir et se concentrer. C’est quelque chose d’intime; et une façon aussi de se distinguer, à une époque où tout va plus vite.»
Ecrire n’a toutefois rien de naturel : cette compétence est récente. Elle remonte aux Sumériens relève Anne Trubek. «Avec le passage à l’ordinateur, quelque chose va se perdre bien sûr, comme lorsqu’on est passé de l’écriture sur argile au papyrus. Mais on gagne en rapidité, en accessibilité et en lisibilité. » À l’heure où l’écriture manuscrite s’efface, notre civilisation connaît un véritable «âge d’or de l’écrit»: mails, SMS, tweets ou posts remplacent les échanges téléphoniques, si ce n’est les conversations tout court.
Lorraine Millot, Libération, 24/09/2013 (texte adapté)
PORTUGAIS – LVII
TRADUCTION DE PORTUGAIS EN FRANÇAIS
O estado norte-americano de Indiana aboliu a exigência do ensino de letra cursiva em suas escolas. A medida adotada é um reflexo do crescente peso das novas tecnologias na sala de aula. […]
A nova norma gerou polêmica tanto entre educadores norte-americanos quanto brasileiros. «Não há perda propriamente da aprendizagem escolar […], mas sim na aprendizagem para a vida social: o da escrita para comunicaçrões pessoais, bilhetes, listas de compras, atividades que a escrita com lápis e papel resolve mais rapidamente», afirma Magda Becker Soares, professora da Universidade Federal de Minas Gerais.
A opinião é partilhada por Artur Gomes de Morais, professor da Universidade Federal de Pernambuco : «Saber escrever à mão é parte da noção que construímos, nos últimos séculos, de ser humano civilizado. Ser capaz de escrever de próprio punho e ser capaz de usar tecnologias antigas como a caneta ou o lápis continua sendo parte importante na definição de cidadão alfabetizado e letrado». Ele também destaca que escrever à mão, com letra cursiva, é um símbolo de diferenciação : «Na França, por exemplo, uma carta de recomendação escrita à mão tem um valor simbólico muito maior que o mesmo texto digitado e apenas assinado».
Ricardo Carvalho, « Estados americanos abolem escrita á mão nas escolas »,
Carta Capital [Brésil], 26/07/2011
